quinta-feira, 8 de julho de 2010

A Caixa

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O lápis derrama palavras desconexas. Desconexas para quem está de fora, é verdade. Porque o dono do lápis compreende cada frase. Inclusive as não-escritas.

São versos direcionados a alguém que jamais os lerá. São palavras de amor que ficarão para sempre registradas naquele caderno guardado no fundo da caixa.

Sabendo que não serão lidas, as palavras repousam sobre o papel sem nenhum cálculo de peso. Elas excluem os eufemismos e dão forma ao exagero desse sentimento. Sim, dão forma. Porque antes de descrito ele não cabia em nenhum molde. Agora, o que é sentido preenche os limites das letras e se torna exatamente o que elas dizem.

Completar linhas e páginas de amor é uma maneira de fazê-lo caber naquela caixa, deixando assim, o dono do lápis aliviado, porque ali, guardado, o sentimento não transborda - dentro dele já nem cabe mais.
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